CULTURADOAM

Pesquisar

Arte da perucaria é o mais novo legado do Festival Amazonas de Ópera à cultura local

Profissionais locais estão aprendendo a dominar as técnicas de perucaria aplicadas às artes cênicas desde 2022, sob o comando da artista Malonna

Dentre os diversos legados que o Festival Amazonas de Ópera (FAO) tem deixado para o Amazonas ao longo de suas 25 edições, um tem ganhado maior destaque nos últimos dois anos: a formação de profissionais em técnicas de perucaria artística. Essa arte tem destaque especial na ópera “O Contractador de Diamantes”, que tem sua segunda apresentação neste domingo (07/05), às 19h, no Teatro Amazonas.

Vários profissionais locais de visagismo e maquiagem iniciaram sua formação em perucaria durante a edição 2022 do festival. Sob a coordenação de Mallona, uma drag queen que se especializou em perucaria artística e hoje é referência nacional na área, esses profissionais locais já estão transformando o novo conhecimento técnico em renda extra.

O 25º Festival Amazonas de Ópera é realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e da Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), com patrocínio master do Bradesco e apoio cultural do Grupo Atem, além da aprovação na Lei de Incentivo à Cultura.

Somente para a ópera “O Contractador dos Diamantes”, a equipe produziu 58 perucas de época. Mais 12 foram produzidas para a ópera “Anna Bolena” e sete serão utilizadas em “Peter Grimes”. Todas produzidas pela equipe de Malonna, que já inclui vários profissionais locais.

“Ano passado fizemos um workshop de perucaria no festival, com a participação da equipe de visagismo do Teatro Amazonas. Os maquiadores e cabeleireiros do teatro participaram, aprenderam sobre manutenção, manipulação e penteados de perucas. E esse ano estamos aprofundando, estudando os penteados do século XVIII para ‘O Contratactaor dos Diamantes’”, explica Malonna.

De acordo com Malonna, as pessoas que participaram do curso, no ano passado, já foram contratadas para o festival deste ano. A artista iniciou na área fazendo figurino visagismo para espetáculos de teatro em 2007 e começou a trabalhar com perucas em 2014.

“Desde 2014, tenho estudado as técnicas de perucaria. Em 2016, abri um curso no meu ateliê em São Paulo e formei vários outros peruqueiros. E, desde 2018, atendo as demandas de perucaria do Festival Amazonas de Ópera”, relata.

Entre 2018 e 2020, Malonna enviava o material pronto de São Paulo mesmo. Pós-pandemia, em 2022, começou a vir para Manaus. E foi então que a formação dos profissionais locais se iniciou. “Vim para Manaus justamente para trabalhar essa formação da equipe local”, conta.

Qualidade e desempenho

Malonna se diz uma entusiasta da educação. E defende que a arte da perucaria cênica acrescenta qualidade no desempenho dos artistas, poupando tempo de preparação antes dos espetáculos.

“Esse projeto de formação de equipe de maquiadores para uso de perucas, é algo que eu acredito ser muito importante. A gente perde qualidade e desempenho, perde muito tempo nos camarins com artistas que têm que chegar muito mais cedo para preparar cabelo, se arrumar. A peruca otimiza isso. Porque prepara antes e estraga menos o cabelo dos artistas”, defende.

A artista exemplifica que, para montar um penteado histórico – o que é o caso da maioria das óperas –, leva horas no camarim, em uma cadeira de salão. “Essas horas, a gente gasta no ateliê e, depois, são apenas alguns minutos de manutenção cotidiana durante o espetáculo. E as trocas podem ser rápidas. Um mesmo ator, ou uma mesma atriz podem usar três, quatro penteados num mesmo espetáculo”, diz.

Pioneirismo

Segundo Malonna, não há muitas pessoas dispostas a ensinar a arte da perucaria no Brasil, o que confere uma importância maior ainda à característica formadora do Festival Amazonas de Ópera.

“É difícil ter gente que entende de perucaria e, principalmente, que se disponha a ensinar. Isso cria mais dificuldade. Já eu acredito que quanto mais profissionais entenderem sobre o material, mais demanda esse material vai ter no mercado. A gente também cria uma possibilidade de ganho econômico para os artistas que trabalham com esses objetos”, declara.

Para a artista, além da possibilidade de emancipação dos profissionais em formação, o Teatro Amazonas e sua Central Técnica de Produção (CTP) se beneficiam ao se tornarem referência nacional.

“É a primeira iniciativa no País desse tipo de formação específica. Essas técnicas costumam ser passadas dentro dos camarins, de forma interna nas equipes. A gente não costuma ver oportunidades mais formais de consolidação e conformação desse conhecimento”, afirma.

Malonna declara sua gratidão ao Festival Amazonas de Ópera e à Secretaria de Cultura e Economia Criativa pela possibilidade de vir de São Paulo realizar esse trabalho pioneiro de formação.

Entre os dias 15 e 19 de maio, Malonna vai ministrar um novo curso de perucaria na Central Técnica de Produção (CTP) do Teatro Amazonas como parte das atividades formativas do Festival Amazonas de Ópera.

Agarrando as oportunidades

Integrante da equipe de maquiagem do Teatro Amazonas, Kate Nunes, trabalha desde 2019 no FAO e não deixou passar a oportunidade de aprender as técnicas de perucaria.

“Quando veio essa oportunidade de fazer a oficina e conhecer como se faz perucaria e penteado, remanejamento de perucas, lavagem, eu me inscrevi. Comecei no ano passado e esse ano estou me aperfeiçoando mais ainda. Esse ano a ópera está demandando muito isso e está sendo uma oportunidade incrível”, comemora.

Abigail Braga diz que já havia pensado em trabalhar com perucaria, mas não achou que teria a oportunidade de aprender em um curso com um profissional da área.

“É muito diferente trabalhar com perucas. Nunca tinha mexido em uma peruca antes. São técnicas bem diferentes das que se usa em um cabelo natural. É tudo novo para mim, mas é uma experiência que vale muito a pena”, afirma.

Bradesco e a cultura

Com centenas de projetos patrocinados anualmente, o Bradesco acredita que a cultura é um agente transformador da sociedade. Além do Teatro Bradesco, o banco apoia iniciativas que contribuem para a sustentabilidade de manifestações culturais que acontecem de norte a sul do País.

São eventos regionais, feiras, exposições, centros culturais, orquestras, musicais e muitos outros. O banco também mantém o Bradesco Cultura, plataforma digital que reúne conteúdo relacionado às ações culturais que contam com o patrocínio da instituição. Visite em cultura.bradesco.

FOTOS: Márcio James /Secretaria de Cultura e Economia Criativa

Você pode gostar