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Artista amazonense da etnia Apurinã é premiada para o acervo Sesc de Arte Brasileira

Obras de Sânipã expostas na Galeria do Largo
Foto: Divulgação

Sãnipã, significa Caba (um tipo de vespa), na língua Apurinã, e é o nome artístico da primeira mulher indígena amazonense a ter uma obra de arte adquirida para o Acervo Sesc de Arte Brasileira, do Sesc São Paulo. A entrada de Sãnipã no seleto acervo de 2.600 obras, de aproximadamente 1.800 artistas do Brasil, entre eles os amazonenses Denilson Baniwa e Manauara Clandestina, é fruto da vitória da artista no Prêmio Destaque-Aquisição da 15ª Bienal Naifs do Brasil, promovida há 30 anos, pelo Sesc Piracicaba, em São Paulo.

Selecionada juntamente com os artistas Alexandra Adamoli (SP), Paulo Mattos (SP) e Shila Joaquim (ES), Sãnipã venceu a premiação com a obra Totem Apurinã Kamadeni, uma instalação em acrílica sobre madeira composta por ouriços de castanha do Pará e estruturas de ferro. A obra já é conhecida dos amazonenses que vivem em Manaus. Foi concebida pela artista, no ano passado, em comemoração aos 350 anos de Manaus, para a exposição “Nipetirã – TODOS”, a convite do curador de Cristóvão Coutinho, que ocorreu no Centro de Artes Visuais Galeria do Largo, da Secretaria de Estado Cultura e Economia Criativa, em parceria com a Manaus Amazônia Galeria de Arte.

Durante os cinco meses em que ficou exposto em “Nipetirã – TODOS”, o Totem Apurinã Kamadeni, foi visto por mais de 10 mil pessoas, testemunhas da mensagem da artista.

“Eu queria mostrar para todos que tenho uma cultura Apurinã que está viva e que os Kamadeni, ainda não reconhecidos pelo FUNAI, existem e possuem suas histórias, seus mitos e sua arte. Queira mostrar o que nós somos hoje. Pintar para mim significa preservar a cultura do meu povo”, explicou Sãnipã.

A artista recebeu a notícia da premiação com muita alegria e diretamente de Lábrea, sua terra natal, local que escolheu para fazer seu isolamento social em momentos de pandemia, e comemorou junto com seus parentes indígenas. “Essa notícia vai ser recebida com muita alegria por meus parentes Apurinã e Kamadeni, porque eles sabem o quanto estamos empenhados em cuidar da nossa cultura e sermos reconhecidos. Esse prêmio veio trazer essa reflexão e me motiva cada vez mais a seguir em frente mesmo com todos os desafios. Estou muito emocionada”, disse Sãnipã.

Para a Agente de Cultura e Lazer do Sesc Piracicaba- SP, Margarete Regina Chiarella, a entrada de Sãnipã no Acervo Sesc de Arte Brasileira vem somar positivamente em um time consagrado, que já inclui 3 artistas indígenas (Carmézia Emiliano, Arissana Pataxó e Denilson Baniwa), além do coletivo Mahku, composto por 12 artistas indígenas. “A obra da Sãnipã terá a possibilidade de despertar nas pessoas o desejo de aproximação dos conhecimentos das culturas Apurinã e Kamadeni, mantendo vivo o pedido de socorro que a artista propõe para que se reconheça e se garantam os espaços legítimos das duas culturas, especialmente do Povo indígena Kamadeni”, destacou Margarete.

Trajetória – Nascida no município de Lábrea, nas margens do rio Purus, no Estado do Amazonas, Sãnipã é filha de mãe Kamadeni e pai Apurinã. Foi batizada e registrada no cartório como Maria Antônia Souza Silva, nome que usou até iniciar seu contato com as artes plásticas em 2003.

Sua formação artística foi realizada em Manaus, quando em 2005 formou-se no curso de Pintura da Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia (IDC). Foram três anos de intenso mergulho na história de seus antepassados, esforço que a fez ser a primeira indígena da etnia Apurinã a se tornar artista visual. Nos anos de 2006 à 2008 fez a formação profissional básica, com aperfeiçoamento técnico e artístico também no Instituto Dirson Costa. Atualmente desenvolve trabalhos artísticos e de educação indígena nas cidades de Manaus, Pauini e Lábrea, no Amazonas. Seus trabalhos artísticos podem ser encontrados na Manaus Amazônia Galeria de Arte.

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