A partir desta quinta-feira (19/8) até a próxima segunda-feira (22/8), em São Gabriel da Cachoeira, o grafiteiro Raiz realizará uma oficina em homenagem ao artista indígena Feliciano Lana, que foi vítima da Covid-19 em 2020, e dá nome ao edital do Governo do Amazonas que contemplou o projeto, como parte das ações da Lei Aldir Blanc. A ação vai revitalizar o Muro do Bispo, localizado no município.
O projeto ‘Muralizar: do Raiz ao Lana’ tem o objetivo de fazer com que toda a comunidade de São Gabriel da Cachoeira participe da ação que, além de proporcionar uma experiência artística para os habitantes do município, também contribuirá com aprendizado sobre técnicas do grafite e muralismo.
“Fiquei muito feliz com a proposta do Governo do Amazonas em criar um prêmio com o nome do Feliciano Lana mantendo viva sua história. Pouquíssimos lugares do Brasil dão crédito e valorizam os indígenas e isso, para mim, foi um incentivo para submeter um projeto dedicado a Lana em sua própria comunidade”, explica Raiz.
A oficina será realizada respeitando as medidas de segurança, com número limitado de participantes, que deverão usar máscara, manter o distanciamento e o uso de álcool em gel.
Memória – Para Raiz, voltar a São Gabriel da Cachoeira sempre é um momento de aprendizado e apreciação da cultura amazonense. O grafiteiro relembra que teve dois momentos marcantes de encontro com Feliciano Lna no município, sendo o primeiro em 2018, quando ministrou uma oficina colaborativa para revitalizar um mural na Ilha Adana, e o segundo, em 2019, para fazer um trabalho junto ao desenhista para o Museu Etnológico de Berlim e Museu do Brasil.
“Foi um privilégio e uma honra trocar ideias com Feliciano e conhecer seus desenhos, um homem repleto de histórias, cultura rica e preocupado em fazer o melhor para sua comunidade”, relembrou.
Feliciano Lana – Artista plástico e líder indígena da etnia Dessana, Feliciano Lana foi um importante representante e defensor da cultura indígena do Alto Rio Negro.
Nascido na aldeia de São João Batista, no rio Tiquié, em 1937, Feliciano conseguiu reconhecimento internacional por seus desenhos. Entre seus inúmeros trabalhos, foi um dos ilustradores do livro “Antes o mundo não existia”, uma coletânea de narrativas míticas do povo Dessana; escreveu e ilustrou o livro “A origem da noite e como as mulheres roubaram as flautas sagradas”.
Ao lado do também artista Miguel Lana, Feliciano contribuiu com a criação do Bloco Etnográfico do Centro Cultural dos Povos da Amazônia (CCPA), com artefatos e pinturas que destacam a cultura do Alto Rio Negro, como a que ilustra a origem do universo para os Dessana.
Também há uma exposição permanente com obras de Feliciano no Museu da Amazônia (Musa), no Largo de São Sebastião, Centro Histórico de Manaus. “Peixe-Gente” é composta por desenhos e diversas narrativas do povo Dessana.
Feliciano faleceu no dia 12 de maio deste ano, de parada cardiorrespiratória, com suspeita de ser em decorrência da Covid-19.