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“Nipetirã” reúne obras de quatro artistas indígenas na Galeria do Largo

Da esquerda para a direita – Dhiani, Duhigó e Sãnipã
Divulgação/ SEC

Wanano, Tukano, Apurinã e Kamadeni. Estas quatro etnias indígenas estarão representadas em mais de 120 obras configuradas em quatro ambientes artísticos dentro da Galeria do Largo, a partir desta quinta-feira (17/10), às 18h, com a inauguração da exposição “Nipetirã – Todos”. Promovida pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC), em parceria com a Manaus Amazônia Galeria de Arte, a mostra tem entrada gratuita.

“Nipetirã” (que significa “todos” em Tukano) conta com 54 obras – entre pinturas e quadros de marchetaria – e 72 esferas de acrílica sobre ouriço de castanha do Pará. As obras pertencem aos artistas indígenas Dhiani Pa’saro (etnia Wanano), Duhigó (etnia Tukano), Sãnipã (etnia Apurinã/Kamadeni) e Yúpuri (etnia Tukano). O diretor da Galeria do Largo, Cristóvão Coutinho, explica que as obras estão organizadas de acordo com os conceitos: casa, sagrado, mundo e universo.

“No momento está havendo uma grande inserção de artistas indígenas no sistema de artes contemporâneo, e já estávamos pensando em como trazê-los para a Galeria”, explica Coutinho. “Fizemos uma parceria com a Manaus Amazônia Galeria de Arte, que já tem um trabalho com estes artistas. Além de trazer as obras deles para a Galeria do Largo, pedimos que eles produzissem esses ambientes artísticos para nós, que dividimos nesses quatro conceitos”.

Todos os quatro artistas terão quadros expostos na Galeria, mas cada um preparou um ambiente artístico. Sanipã trouxe as esferas/ouriços e pintou grafismos das etnias das quais descende – Apurinã e Kamadeni – que resgatam a memória destes povos, caracterizando o ambiente sobre o universo. Duhigó preparou um ambiente que fala sobre a casa, com pinturas sobre as pedras do município de São Gabriel da Cachoeira, sua terra natal, e trazendo referências de sua família da etnia Tukano. Dhiani Pa’saro pintou o ambiente sobre o sagrado, com representações de rituais, o pajé, a música e instrumentos. Já Yúpuri fez o ambiente sobre o mundo, com grafismos e pinturas que refletem sobre sua identidade inserida no mundo contemporâneo.

“Esta exposição é uma maneira de ocupação da arte destes indígenas. Nosso genético passa pelo índio, negros e imigrantes, todos fazem parte da nossa identidade. Perto dos 350 anos de Manaus, é importante uma mostra que faz um referencial, um reconhecimento sobre os primeiros habitantes desta terra”, ressalta Coutinho.

Para Carlysson Sena, fundador da Manaus Amazônia Galeria de Arte, a exposição celebra o encontro com a raiz cultural ancestral dos amazonenses. “É um convite de quatro artistas contemporâneos de origem indígena a todos nós, que nos perdemos de nossa identidade, ou estamos buscando uma reconexão com o que somos em essência. A Manaus Amazônia Galeria de Arte sente-se honrada de representar este artistas que ganham atenção do mercado nacional e internacional, mas fica feliz também de cumprir seu propósito de levar arte amazônica para as pessoas que vivem no Amazonas”, declara.

Duhigó, artista plástica da etnia Tukano, ressalta que o nome indígena que intitula a exposição é muito significativo, pois une o trabalho de artistas de diversas etnias. “Estamos todos juntos nesta exposição, por isso ‘Nipetirã’, que significa na minha língua ‘todos’. Eu estou feliz por mostrar meus trabalhos junto com artistas de outras etnias e festejar o aniversário de Manaus mostrando nossa cultura, que muitos não conhecem. Todos estão convidados”, diz a artista que, junto com Dhiani Pa’saro, está também em exposição nacional coletiva e itinerante intitulada “VaiVém”, nos Centros Culturais Banco do Brasil de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – reunindo 113 artistas com obras de arte sobre as redes de dormir brasileiras.

A Galeria do Largo fica aberta para visitação de terça a domingo, das 14h às 20h. “Nipetirã – Todos” fica em cartaz até fevereiro de 2020.

Sobre os artistas

Sãnipã (significa “Caba”, um tipo de vespa) nasceu em 31 de outubro de 1979, na região do Caetitu, localizada no município de Lábrea, nas margens do rio Purus, Amazonas. Em 2005, formou-se no curso de Pintura da Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em Manaus. Tornou-se a primeira indígena da etnia Apurinã e Kamadeni a se profissionalizar nas artes visuais. Atualmente vive e trabalha em Manaus e Lábrea. Em sua arte, expressa a cultura dos dois povos que descende: Apurinã e Kamadeni. Em suas telas e suportes derivados da floresta, há os grafismos, artefatos, rituais e o imaginário que envolve sua vivência como indígena da Amazônia. Sãnipã resgata a memória de sua tribo e de seu povo, com leituras e releituras da estética indígena.

Dhiani Pa’saro (nome que significa “Pato do Mato”, na língua indígena Wanano) é um índio da etnia Wanano e nasceu em 23 de fevereiro de 1975, na aldeia Tainá, no município de São Gabriel da Cachoeira, na região do Alto Rio Negro. É filho de pai Wanano e mãe Kobéua. Veio para Manaus aos 23 anos e formou-se em Pintura e Marchetaria na Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em 2007 e 2008. É o primeiro indígena da etnia Wanano a se profissionalizar nas artes visuais. Fala fluentemente as línguas indígenas Wanano, Kobéua e Tukano. Em suas telas, Dhiani expressa, principalmente, a cultura primitiva e ancestral da Amazônia na cosmovisão indígena, dentro de uma expressão poética original e muito própria de um artista que vê na arte a possibilidade de salvaguardar a memória ancestral de seu povo Wanano.

Duhigó (significa “primogênita”, na língua indígena Tukano) nasceu em 02 de março de 1957, na aldeia Paricachoeira, município de São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro. É filha de pai Tukano e mãe Dessana (etnias amazônicas). Mora em Manaus desde 1995. Concluiu o curso de Pintura na Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em 2005, tornando-se a primeira indígena da etnia Tukano a se profissionalizar nas artes visuais. Em suas telas, expressa, principalmente, a cultura ancestral da Amazônia na cosmovisão indígena.

Também costuma representar em seus trabalhos o cotidiano próprio das “nações” indígenas, seus artefatos e elementos mitológicos. Sua prioridade é registrar a memória dos índios Tukano, assim como a natureza amazônica presentes em sua memória afetiva. Fala fluentemente as línguas indígenas Tukano, Dessana e Tuyuka, além do português. Desde 2005, Duhigó possui uma contínua produção artística que já lhe rendeu exposições no Brasil e no exterior. Em 2009, o Governo do Amazonas presenteou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, com sua obra “Pote Tukano”, durante a campanha para a cidade de Manaus se tornar sub-sede da Copa do Mundo de 2014.

Yúpury (significa “o primogênito da nação Tukano da 3ª geração”, na língua Tukano) nasceu em Porto Velho, Rondônia, no dia 15 de julho de 1987, filho de mãe Tukano e pai baiano. Em 2007, concluiu o curso de Pintura na Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em Manaus. Filho da artista Duhigó sempre acompanhou sua mãe no ofício das artes visuais, desenvolvendo o seu próprio estilo. Atualmente, Yúpury encontra na arte uma terapia e uma forma de contribuir para que os hábitos e costumes de sua etnia Tukano sejam preservados. O que antes era uma memória guardada na oralidade indígena passa a ser eternizado pela arte visual do artista. Sua pintura tem como característica poética os registros de rituais, o cotidiano caboclo e indígena da Amazônia, bem como os elementos mitológicos dos índios tukano em diálogo com a contemporaneidade.

Serviço: Inauguração da exposição “Nipetirã – Todos”
Data/hora: Quinta-feira (17/10), às 18h
Local: Galeria do Largo, Largo de São Sebastião, Centro
Entrada: Gratuita

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